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The original was posted on /r/portugal by /u/Fridux on 2024-11-05 08:07:48+00:00.


Tenho 27 anos de experiência como programador auto-didacta, e há 10 anos perdi a batalha contra um glaucoma congénito, resultando na perda total de visão.

Durante os primeiros 5 anos depois de perder a visão, e embora tivesse conhecimento da existência de programadores cegos, nunca pensei que isso estivesse ao meu alcance. Acontece que em 2019, graças a um acompanhamento psiquiátrico e psicológico que tive no Júlio de Matos, consegui finalmente sair da espiral negativa em que me encontrava. O que mudou na altura foi ter sido desafiado a pôr os conhecimentos que tinha em prática implementando um jogo com gráficos 3D em iOS. Na altura a minha sobrinha estava a um ano de entrar para o ensino superior, pelo que aproveitei para tentar cativá-la para Engenharia Informática mostrando-lhe o quão fácil é impressionar com as tecnologias modernas e tirando vantagem da visão dela. Infelizmente ou felizmente ela não demonstrou interesse nenhum, pelo que acabei por fazer o projecto sozinho, impressionando toda a gente à minha volta, apesar do projecto estar tecnicamente muito longe de ser uma obra prima da engenharia.

Entretanto acabei também por desenvolver técnicas que me permitiram começar a criar, de forma independente, interfaces de utilizador gráficos, implementei o meu próprio rasterizador de gráficos 3D, e até aprendi alguma geometria analítica Euclidiana, tendo acabado por perceber e implementar algoritmos para detecção e resolução de colisões entre sólidos, como o Gilbert-Johnson-Keerthi e o Expanding Polytope Algorithm. Recentemente tenho feito algumas descobertas a nível pessoal, ainda no reino teórico, sobre redes neuronais para aprendizagem supervisionada e não supervisionada, e nas últimas semanas tenho-me focado mais no processamento de sinal digital com foco no áudio, sendo os meus objectivos a curto prazo perceber a lógica por detrás da Fast Fourier Transform, e depois disso, ambiciono perceber também a Fast Wavelet Transform, pois já tenho um projecto pessoal em mente onde pretendo usar este tipo de conhecimento.

Esta recente descoberta de uma pequena paixão pela matemática, que foi em grande parte alimentada por uma breve passagem pelo IST como aluno no ano passado, em conjunto com a experiência mais prática do lado da engenharia de software que já tinha, têm vindo a aumentar exponencialmente a minha auto-confiança na minha capacidade de criar valor. No entanto, conforme tenho vindo cada vez mais a perceber, convencer-me a mim próprio era a parte mais fácil, o grande problema é convencer as outras pessoas, pois desde 2021 que faço candidaturas a posições júnior no mercado nacional e até ao momento desta publicação não obtive qualquer resposta.

Por curiosidade, e como partilhar conhecimento é um passa-tempo que tenho desde os meus primeiros dias neste mundo, no Sábado decidi visitar um subreddit de programadores cegos ao qual não subscrevo porque normalmente está às moscas. A ideia era responder a alguma pergunta interessante que lá tivessem colocado, mas em vez disso encontrei uma publicação que pedia alguém com conhecimentos profundos, tanto como utilizador como como programador, das tecnologias de acessibilidade da Apple no MacOS. Como por acaso até tenho conhecimento e experiência nessas tecnologias, respondi explicando a minha situação actual e apontando para um projecto pessoal no GitHub que demonstra perfeitamente esse conhecimento e experiência, mas sem grande esperança de obter resposta, tendo em conta o meu insucesso nas candidaturas ao mercado de trabalho nacional e o facto da publicação já ter duas semanas.

Na sequência da minha resposta, recebi uma mensagem com um convite para uma reunião por vídeo-conferência, que me parece ter corrido bem, dado que logo após a conversa recebi uma proposta de trabalho remoto para um empregador Americano. Na proposta estava prevista uma compensação salarial que, apesar de estar abaixo da média para os valores que costumo ler de compensação para este tipo de trabalho nos Estados Unidos, é cerca de 3 vezes superior à minha última remuneração em empresas nacionais, e 8 vezes superior à minha pensão de invalidez acumulada com a prestação social para a inclusão, para além de ser quase o dobro do valor ambicioso que pedi. Os objectivos iniciais que me foram propostos para as primeiras semanas parecem-me bastante simples de alcançar até porque 90% do código de baixo nível responsável pelo trabalho pesado já está feito no meu projecto pessoal, sendo os restantes 10% adaptações de alto nível que prevejo conseguir implementar numa questão de poucos dias.

O problema é que estes valores de compensação, que para mim são astronómicos e nem sequer preciso do dinheiro, vão fazer-me perder direito à pensão de invalidez e à prestação social para a inclusão, e dependendo de várias variáveis, como a avaliação do meu desempenho por parte do empregador, e do sucesso do próprio projecto, o trabalho pode não ser permanente. Em condições normais não consideraria isto um grande risco, não só porque não estaria a perder nenhum direito, mas também porque não teria a dificuldade que tenho de voltar a entrar no mercado de trabalho por ser cego, no entanto nesta situação tenho de pensar a longo prazo, e não sabendo o que fazer, solicito a vossa opinião.

Por último, pretendo também ser alertado para todas as questões legais, a nível de finanças e quaisquer outras coisas que se possam lembrar e considerar relevantes, sobre o regime de trabalho remoto de Portugal para os Estados Unidos da América, pois não quero cometer erros que possam prejudicar a minha relação com esse país no futuro.